Entrevista

'É como se os nossos meninos voltassem a morrer'

Nilda Gómez de Benítez, 56 anos, é mãe de Mariano Alexis Benítez, morto aos 20 anos no incêndio da boate República Cromañón, em Buenos Aires na Argentina, em 2004. Ela é uma das presenças mais aguardadas no congresso. Confira trechos da entrevista concedida por e-mail a agência RBS.

Agência RBS _ O incêndio na Kiss foi bem parecido com o que ocorreu na boate República Cromañón. Como foi para vocês receber a notícia do que tinha acontecido em Santa Maria?
Nilda Gómez de Benítez
_ O incêndio em Santa Maria, foi um dejavu, ou seja, voltamos a viver de uma forma angustiante tudo o que havíamos passado. Eu estava dormindo, quando tocou o telefone. Era um repórter do Canal 26, dizendo: "Nilda, ligue a televisão, é horrível, me perdoe mas eu tenho que te colocar no ar, fique na linha". Liguei a TV e deparei com as imagens repetidas do que havíamos vivido em Buenos Aires, enquanto passavam as imagens do buraco que estavam fazendo para poderem entrar, era como se estivesse em Cromañón, e de repente minha mente se transportou para 2004 e eu esperava que tirassem o Mariano por ali.

Era como se nossos meninos voltassem a morrer, porque nada do que aconteceu em Buenos Aires havia servido para eliminar o uso de fogos de artifício em lugares fechados, nos sentimos derrotados.

Como foi a criação da Associação Famílias pela Vida?
Nilda
_ Criamos quando percebemos que estávamos enfrentando poderes muito grandes que se protegiam entre si.

Quais foram as principais ações da associação?
Nilda
_ Rastreamos toda a província buscando sobreviventes e familiares, conseguimos criar um programa especial de ajuda às vítimas, que consistia em atenção psicofísica, um subsídio em dinheiro, e as associações de familiares e sobreviventes ainda perdura até hoje. Também se trabalhou com advogados, promotores e juízes para chegar à condenação de boa parte dos responsáveis. Foi implantado um programa de conscientização dirigido a todos os estudantes do Ensino Médio de Buenos Aires, além de oficinas de prevenção em diferentes províncias do país.

E aqueles que ficaram inválidos ou que, por trauma, não conseguiram mais trabalhar. O que foi feito com eles?
Nilda
_ O governo apoia financeiramente as vítimas com um subsídio insignificante, por outro lado, garante a atenção médica. Conseguimos muitos postos de trabalho para os pais, parentes e sobreviventes em diversas áreas do governo e continuamos garantindo emprego para os jovens que não conseguem se inserir no mercado de trabalho.

Houve punição?
Nilda
_ Estão presos 15 dos responsáveis. Outros casos estão sendo avaliados e também houve impunidade, como o Ibarra. Estamos lutando na Suprema Corte para que considere delito doloso o que ocorreu, com o que aumentariam as penas dos que hoje estão presos.

Qual conselho vocês dariam para os familiares e sobreviventes da Kiss?
Nilda
_ Tudo o que se possa fazer em busca de Justiça deve ser feito, mesmo que isto não tenha funcionado em outros países. Tampouco devem deixar de se mobilizar, isto é o que chama a atenção das autoridades. A união com outras vítimas de fatos semelhantes, deve se fortalecer, em uma espécie de reivindicação internacional e a imprensa é muito importante para isto.

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